1 de março de 2012

Hopi Hari ficará fechado por dez dias, afirma MP



O Ministério Público afirmou no começo da noite desta quinta-feira (1º) que foi acordado com o parque de diversões Hopi Hari, que fica em Vinhedo (SP), que o local vai ficar fechado por dez dias a partir desta sexta-feira (2) para que os brinquedos sejam periciados. A decisão ocorre após a morte da adolescente Gabriela Nichimura, 14, que caiu do brinquedo La Tour Eiffel na última sexta-feira (24). No período, serão vistoriados os equipamentos e os procedimentos de segurança da empresa.

“O consumidor tem uma vitória à medida que, com as atividades suspensas, eliminamos o risco de haver novas falhas”, disse a promotora de defesa do direito do consumidor de Vinhedo, Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira. Além da suspensão de dez dias, o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre as partes determinou que o brinquedo em questão seja interditado por tempo indeterminado até que o parque apresente o incremento do plano de segurança obtido junto à fabricante suíça.



Na próxima segunda-feira (5), assessores técnicos do MP (Ministério Público) farão a vistoria no Hopi Hari com o Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), o Corpo de Bombeiros, o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e o Instituto de Criminalística de São Paulo.

“Houve uma negligência no sistema de operação do parque. As pessoas que operavam não estavam devidamente capacitadas e orientadas para operar o brinquedo”, disse a promotora. Segundo ela, porém, “a pirâmide de responsabilização pelo acidente precisa ser construída dentro da hierarquia do parque”. A promotora disse ainda que o brinquedo tem "um sistema de segurança ineficaz, pois o travamento da cadeira dependia unicamente da ação humana, que é falível”.

A promotora disse que, após os dez dias, se não houver a resolução de eventuais problemas que ainda sejam apontados, pode ser determinada uma nova suspensão de mais dez dias, "e, em último caso, a aplicação de multa diária de R$ 95 mil”.

Conforme Vieira, além da suspensão, o parque será chamado a assinar um segundo TAC para pagamento de indenização a um fundo coletivo do MP, o Fundo Especial de Reparação dos Direitos Difusos Lesados --o valor vai ser definido com base na capacidade financeira da empresa e no grau de negligência constatado. Em relação ao direito do consumidor lesado, a promotora foi taxativa. “Não resta dúvida de que o direito coletivo do consumidor foi lesado, pois isso poderia ter acontecido a qualquer outra pessoa.”

Em nota, o Hopi Hari confirmou o fechamento do parque por dez dias, disse que está cooperando "irrestritamente com todos os questionamentos relativos ao caso" e reafirmou "seu total interesse na elucidação do caso, bem como seu compromisso com a segurança de todos os visitantes".

Advogado de parque assume erro

Mais cedo, o advogado do Hopi Hari, Alberto Toron, admitiu pela primeira vez que pode ter havido um erro na operação do brinquedo e que a jovem estava em uma cadeira desativada. “Estava absolutamente clara [a interdição da cadeira], naquele dia. Mas alguém, inadvertidamente, num erro crasso, habilitou aquela cadeira”, disse.

Toron, que informou que a cadeira usada pela vítima estava inativa havia dez anos por um problema técnico, disse que o acidente pode ter sido resultado da falha de algum funcionário da operação ou da manutenção. "Talvez alguém tenha aberto inadvertidamente a trava da cadeira que não deveria funcionar. Mas se isso acontecesse, o funcionamento do brinquedo deveria ter sido imediatamente interrompido", afirmou.

O advogado ressaltou que os funcionários do parque passam por treinamento para operação e manutenção dos brinquedos, mas reconheceu que o caso de sexta aponta para um "erro crasso". "Estamos investigando e queremos que eventuais culpados sejam responsabilizados."

Para o delegado Álvaro Santucci Noventa Júnior, o inquérito vai apurar a hipótese de dolo eventual, ou seja, quando o responsável, ainda que não intencionalmente, assume um risco. Somente agora, após o acidente, o parque admite ser necessária alguma faixa ou outro tipo de barreira para impedir o acesso do público àquela cadeira.

Conforme Santucci, isso é reforçado também pela ausência de barreira à cadeira danificada e pela forma de operação de funcionários que não interromperam, durante o funcionamento, o brinquedo. "Além de negligência, foi imprudência não haver um aviso de interdição", disse.
Hoje, tanto o delegado quanto o advogado do parque disseram ter sido surpreendidos pela foto divulgada ontem pela familia --na qual Gabriela aparece na extremidade do brinquedo. Até então, a informação era a de que a adolescente estava na segunda cadeira da direita para a esquerda.

Trava abre durante descida

Ontem, após o depoimento da mãe da menina, que apresentou fotos de minutos antes do acidente, o delegado e o promotor Rogério Sanches Cunha, concluíram que a primeira perícia havia sido feita na cadeira errada e que o assento onde realmente estava Gabriela deveria estar interditado.
"A cadeira era inoperante há anos, o parque não nega. O que o parque talvez quis negar em um primeiro momento era que alguém havia sentado nela." O promotor diz que as fotos mostram Gabriela "sentando e subindo na cadeira inoperante".

Após a descoberta do erro, o delegado determinou uma nova perícia no brinquedo e foi constatado que a trava da cadeira de fato ocupada pela vítima abre durante a queda do elevador. "[Constatou-se] que, na descida, quando a atração é colocada em atividade, aquela trava se levanta quando está em queda livre", afirmou ele.

"Apuramos inúmeras falhas que acabaram, em uma sucessão de erros, provocando a morte da Gabriela", disse o promotor. "A partir do momento em que o parque reconhece que aquela cadeira é inoperante, ele sabe que aquela cadeira tem problemas mecânicos. Então não é que houve falha mecânica, a falha na cadeira já era previsível. O que houve foi uma falha humana em não se impedi-la de entrar naquela cadeira”, afirmou.

De acordo com o promotor, a menina levantou sozinha a trava do assento interditado --que não contava com nenhum aviso-- e entrou em “uma verdadeira arma”. “Hoje praticamente trabalhamos com a certeza de que, no momento da frenagem ou talvez um pouco antes, por falta de força de ficar se segurando, ela efetivamente caiu, pendendo o corpo para frente. Essa menina entrou em uma verdadeira arma, em um brinquedo que era fatal”, disse Cunha.

O acidente

O acidente ocorreu por volta das 10h30 de sexta-feira (24). A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu. Ela teve traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.
O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes. O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do parque.
Em nota, o Hopi Hari informou que "lamenta profundamente o ocorrido" e que "está prestando toda a assistência à família da vítima e apoiando os órgãos responsáveis na investigação sobre as causas do acidente".

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2 comentários:

  1. Cadeira inativa a anos e nada foi feito para solucionar o problema...então uma fatalidade... e agora? vão tomar providencia para arrumar a cadeira.Uma garota morreu e muito possívelmente nada absolutamente nada vai acontecer com os reativos. Cortesia da nossa "bela justiça"...Acham que eu estou sendo afoito?
    Nós estamos sempre assistindo esse filme todos os dias, zilhões e zilhões de vezes...

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